diário de escrita: escrever um livro é um processo para aprender a dizer “sim”

eu comecei a escrever muito nova, já falei isso milhares de vezes. não canso de repetir: tudo de mais importante na minha vida foi documentado. é bizarro pensar, mas não consigo recordar de um momento sequer que tenha sido, de fato, relevante e não tenha se tornado, pelo menos, uma entrada no meu diário.

o que ninguém (ou quase ninguém) sabe é que eu também escrevo sobre a vida dos outros. não no uol.com, menos ainda no hugogloss.com. a real é que eu escrevo sobre a vida de gente que só vive dentro da minha cabeça e, agora, no meu evernote. há uns cinco anos comecei a escrever uma história ficcional que pendia pro suspense, envolvia policiais, processos químicos, transformações e seres completamente amórficos e totalmente temperamentais. era tudo muito distante da minha realidade e parecia um livro escrito por uma menina do ensino médio — e era. minha professora de biologia (atual amiga que recebe áudio meu levemente alcoolizada), Carla, lia tudo na época e dizia adorar, apesar de nada me tirar da cabeça que isso só acontecia porque ela gostava muito de mim e não queria me ver triste.

com o tempo, fui aprimorando. conheci personagens novos que moravam em outros lugares da minha cabeça, fui andando por dentro de mim numa esperança irremediável de encontrar a história de quem eu tanto tentava contar sem nunca conseguir. juro que não tô sendo abstrata: toda vez que sentava pra escrever, sentia pairar sob a minha mente o sentimento de “isso é bom, mas ainda não é isso”.

tenho inúmeros personagens. a Lúcia é metódica, o Carlos é o gente-boa-bobão, a Manuelle sempre faz alguma cagada e tem uma que não tem nome, mas é uma personagem tão inteligente que me obriga a estudar antes de escrever. eu crio personagens, histórias e realidades diferentes das minhas. criei contos inúmeros. escrevi livros curtos (existe um termo pra isso como existe “curta-metragem” pra filmes?) e nada nunca saiu muito do papel. como disse, eu até gostava do que tava sendo escrito, mas não conseguia considerar suficiente.

até a Preta aparecer. e agora ela apareceu.

e eu queria contar que a história dela é a mais legal que eu já escrevi. considerei absurdamente suficiente, porque no momento que comecei a delinear as primeiras cenas, alguma coisa na minha cabeça disse: “agora sim”.


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