nem nos piores dias eu desejei não ter te conhecido.
até porque viver um amor é uma das melhores coisas que estar vivo nos propicia: é bom beijar, é bom abraçar, é bom dormir perto, é bom sentir e decorar o cheiro, é bom compartilhar a vida, é bom encaixar no peito, é bom dividir as dores, é bom caber na agenda. amar é uma delícia, até quando deixa de ser.
e aí, quando deixa de ser, a gente segue. segue, porque o amor não deixa de ser amor só porque deixou de estar junto. o amor segue sendo amor mesmo que cada um siga amando a si, mesmo que apareçam novos peitos, cheiros, abraços e lábios. mesmo que apareçam novos — mesmo que se escolham os velhos, que não mais os seus, que não mais os meus. o amor segue sendo amor mesmo que a vida pareça turva, mesmo que os dias pareçam errados, mesmo que as músicas pareçam provocativas e tragam de volta à memória os abraços, cheiros e peitos que já não se abraçam, sentem ou encaixam.
e aquela vida que se divide e multiplica porque são duas, o dia que se estende e se entende com o calor do cobertor e aquela mão que segura a outra mão e acaricia a ponta do dedão nunca deixam de ser bons, presentes ou reais só porque o amor deixa de ser. ainda bem que os dias se mantêm azuis, que o céu se mantém ensolarado e o cobertor, mesmo que só pra um, mantém-se aquecido e pronto para te confortar nos dias mais gélidos dessa primavera tão linda.
o amor tanto mantém-se sendo amor que, mesmo ele que deixe de ser pra dois no auge do outono que é frio e propício à solidão, ele traz a primavera florida e linda pra provar que, por mais que o amor deixe de estar, o amor segue sendo amor em todas as outras coisas.
o amor sempre é amor. a gente só esquece de ver.
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