eu nunca fui de textos longos, história compridas e coisas que durem. enjoo de tudo, o tempo passa mais rápido na minha cabeça e em um mês já vivi duas vidas. minhas relações não duram e eu sempre peço demissão antes da hora. escrever um romance tem sido um desafio diário.
eu ainda não enjoei da preta, mas tenho muito medo de quando isso acontecer. acho que o medo tem me paralisado. me inscrevi no nanowrimo e consegui desenvolver dois capítulos que gostei – todo o resto foi pro lixo e pro limbo da criptografia que o windows deve fazer com as nossas palavras tecladas que desperdiçamos apertando o delete.
na última semana comecei a ler um livro chamado “pornopopéia”, um neologismo escolhido pelo autor pra nomear uma história muito louca. o cara é muito fodido na vida (porque quer), toma decisões péssimas (conscientemente) e, se não fosse tão improdutivo, poderia ser o chnaski.
pelo menos o alterego de charles bukowski escrevia sobre suas imbecilidades. o zeca só cheira, bebe, fuma e come quem não devia.
sempre me disseram que eu procuro problema e não posso discordar. foi nessa história de um cara todo cagado e cheio de coisas que me deixam puta que encontrei um gás pra voltar a escrever. fazia tempo que não sentava na frente do computador e escrevia tanto, sobretudo na voz da preta.
o ricardo me inspira mais. tá aí uma novidade sobre esse livro: ele tem duas vozes. e isso foi outra decisão minha pra tentar contornar minha compulsão por novidades. é mais fácil escrever pelo ricardo, mas dele eu já enjoei faz tempo.
a preta é diferente de mim em muitos aspectos, exige muita pesquisa e preciso me esforçar pra não julgá-la, enquanto ser humano, e conseguir escrever sob a ótica de quem faria o que ela faz. eu não faria.
sair de si pra criar um personagem cujas escolhas não te apetecem é um desafio enorme. escrever em duas vozes, maior ainda.
esse livro me traz alguns medos:
- acabar tendo uma história com dois personagens mal construídos porque enjoei de ambos e não consegui estruturar nada;
- largar mão de tudo, deletar o arquivo e só escrever um conto com uma história que poderia ser um romance;
- não conseguir desenvolver tudo da forma como eu quero;
- criar um personagem tão pau no cu que nem com reza braba, pesquisa e más influências vou ser capaz de sustentar.
escrever é uma delícia. dá um medo…
o que me conforta é que, pelo menos, do medo eu não enjoo.
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