você sempre, eu nunca. quem vira o copo? uma vida baseada em amores rasos que vão embora rápido numa peripécia infinda de tentar envolver qualquer coisa que não tenha nem solução, nem objetivo, nem questionamento, nem consequência pro caso de vir a acabar. a gente se envolve nas coisas pra quê, se nem objetivo têm? pra onde elas vão, afinal?
você sempre vai, eu nunca fico. a gente acaba no mesmo lugar, mas, o copo, quem vira?
eu viro a casaca, jogo no mundo, quero que o mundo se acabe em fel pra eu poder adoçar. você assiste o espetáculo e aplaude no final. se bato o pé no chão e jogo o braço pro céu, você segura minha mão e me beija pra me calar a boca. não dá pra te enfiar em música nenhuma, porque você canta todas e tudo te encaixa bem. eu sou uma coletânea riscada das canções do cazuza que ninguém nunca ouviu. exagerado é pouco e o amor que ele inventa não chega nem perto do amor que a gente criou. e que criação, ein?
moldamos a mão cada uma das curvas de uma estrada de barro, horrível de andar apé, pior ainda pra pneus de má qualidade como os do seu carro – que vive quebrado enfurnado em alguma oficina meia-boca que nunca vai resolver problema nenhum. e a gente anda mesmo assim. você, sem reclamar. eu, listando todos os contras. o único pró é que você tá junto. pra você, a paisagem vale o perrengue. esse copo, mais ainda, por deus, quem será que toma.
você sempre, eu nunca. eu nunca topo nada pré-agendado, detesto essa parada de ir sempre no mesmo lugar e caminho pela vida descobrindo pra onde tô indo a cada passo que dou. você sempre sabe pra onde vai, senta na mesma mesa do mesmo bar, pede a mesma cerveja pro mesmo garçom que já decorou seu gosto, seu rosto e seu cartão. você tava no de sempre, eu tava no de nunca. por acaso, dividimos o balcão. duas pingas, puras, sem limão.
você sempre, eu nunca.
quem vira?
Deixe um comentário