eu falei que não ia e que, meu deus, não podia, nem por descuido nem por intenção me deixar cair no seu papo sem noção. avisei que não ia me apaixonar, pra você desencanar, pra gente deixar como tá, fazer a página virar, levar tudo como dá.
foi no décimo segundo d’um áudio qualquer que meu peito apertou e eu senti mais que deveria. eu senti mais que deveria quando o tom da sua voz faltou bater no teto tamanha emoção. senti muito, blues, em manhãs seguintes, em noites sem limites, em contas de bar divididas por dois e naquela que você pagou só.
parecia que tinha virado pó tudo que eu tinha dito, que você tinha guardado no bolso minha resistência e me levado caminhando devagar em caminho à inconsciência de me deixar chegar no ponto de considerar te responder sim, te dizer que te quero pra mim, que neguei pra evitar problema, mas que não dá mais nesse esquema e que eu vou precisar da sua ajuda para superar essa bagunça que eu acabei de juntar.
eu disse muito que não ia. repeti. me ignorei, de novo. e fiz.
escrevi cartas, no plural, sem saber onde ia chegar. comi refeições fartas, bebi cervejas geladas, uísques sem nenhum gelo e lidei com suas palavras sem zelo. entendi seu cuidado, te deixei no seu quadrado e superei os dias sem suas gargalhadas. que errada fui eu, sem saber como ficar na hora que te senti encostar no meu ombro, puxar a cadeira, sentar do lado, atrapalhar a passagem. que viagem.
não sei quando te quis, mas te quis: perto, junto, dentro. e vou te dar esse momento.
tento.
mas eu avisei desde o começo, não penso duas vezes antes de falar, sei que pode machucar. ou curar. ou sarar. no meu caso, citar. recitar. enviar. depois de divagar, devagar, sobre você que me diz o que nem condiz. por isso, eu falei que não ia. eu nem podia. Deus nem queria. mas eu quis tanto, a vida fez da paixão um canto que eu não soube abstrair. e acho que a gente não vai dar certo, nossa cama não tem endereço perto e nossa agenda cisma em não se encontrar. eu vou avisar minha cabeça pra tomar tenência e ter a decência de te deixar pra lá. é que eu já pedi antes pra ela não querer você, que o mundo tá cheio até nem ver mais gente pra se ter. a cabeça não me obedece, não tem prece, nem cerveja, nem uísque, nem cachaça que me faça te colocar onde você tinha que ficar. te guardei um lugar no canto da mente, atrás de tanta gente, e você expulsou todo mundo sem gritar, só com seu jeito de encantar e agora tá tão vazio que eu não sei nem como me portar. era pra ser bom, só eu e você, numa mesa qualquer, mas tem outra mulher, num plural que eu não quero colocar pra minha mente não se perturbar. você vai embora em alguma hora e eu prometi que ia ficar – e fico. enquanto você não for, eu fico. depois, quem sabe, te indico pra quem me disser que quer viver uma coisa doida, pra ter sentimento até perder de vista e, quem sabe, fazer graça pra algum turista dessa cidade que, em todos os seus cantos, não esquece você. eu te disse que não ia, mas estabilidade nunca foi meu forte e você deu sorte que eu demorei pra entender que meu desejo era falta e meu anseio era pauta de mais um texto que, num dia chuvoso, num lugar só seu, eu ia escrever pra te dizer que eu disse que ia ser o fim, mas acontece que eu não posso esconder que eu te quero, sim. ai de mim.
te quero
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