ode ao rio

ainda tem areia da praia da barra nos meus óculos de sol. é engraçado, porque o rio de janeiro nunca vai embora de você. você volta pra sua cidade, vê o cinza dos prédios, mas, se fechar os olhos, quase sente o bafo quente que se compensa pelo céu e pelo mar. e pelos morros. e pelas mulheres de biquíni almoçando em botecos no leblon. você quase consegue ver os postos das praias no meio das calçadas, quando volta do rio. eu digo que, acredite, é só fechar o olho pra sentir a lata de antárctica gelada suando na mão. ninguém passa imune aos arcos da lapa. nem aos botecos da barrinha. nem às caipirinhas do posto 9. e não passar imune pode ser amor ou ódio – a linha é tênue. eu já tinha ido pra lá e voltado com ódio dos preços do transporte e dos rostos mal humorados de quem não suporta visita de quem não fala chiando, nem usa o “r” com emoção. o rio de janeiro é pra quem vive com emoção. uma experiência de gente grande que absorve a rua e bebe em boteco do centro depois de sentar na mureta da urca com mais gente grande, vinda de todo canto do mundo. o corpo tenta abstrair, mas repete que ele continua lindo sim. o rio, por assim dizer. canta que eu rio porque tô no rio de janeiro. e repensa a ideia de vida da selva de pedra. remonta. revive. dá vontade de ficar, voltar, cuidar, conhecer os idosos que tomam muita cerveja, comem camarão e comemoram cada dia que termina e todos os que começam. dá vontade de mostrar o rio que não dá vontade de ir embora. de guanabara, botafogo e jacarepaguá. é caminho sem volta. o rio faz você se apaixonar ou odiar profundamente. mas você sente, sempre sente. muito. e traz pra casa uma saudade. e areia da praia da barra nos óculos de sol. tem um rio pra todo mundo e um pra cada um. tem o rio dos ciclistas, dos banhistas, dos turistas, das ativistas feministas e dos paraquedistas – é só procurar. conheci um rio pra turco, carioca, baiano, paulistano e até russo que achou ali um lugar. tem um rio pra cada um e eu quero construir o meu – e vou começar com a areia da praia da barra que ainda tá nos meus óculos de sol.
 

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