por que eu discuti anitta no almoço de natal

eu sei que já faz um tempo desde o natal e que, teoricamente, as publicações, textões e reflexões acerca do ano não se dão em quase-abril e, sim, no nosso amado mês de dezembro. caguei. me senti no direito de enviar esse texto agora, em plena quase-páscoa, porque o foco da história não é a data dos acontecimentos narrados e, sim, a diva pop internacional anira – tema das discussões do meu almoço comemorativo do aniversário do menino jesus.

sou uma mulher de sorte. minha família é feita de pessoas inteligentes, de cabeça aberta, que sabem discutir sem ofender, que respeitam sem bajular e bebem cerveja pra conversar. o último item facilita todas as outras coisas da lista, precisamos admitir. dentre as pessoas sentadas à mesa às três da tarde do dia vinte e cinco de dezembro do ano passado, três tias, minha madrasta, meu pai, meu irmão, meu avô, minha avódrasta, um tio com sua esposa, uma prima, duas crianças e um cachorro – só faltou o violão.

falo muito. puxo assunto nas mesas todas. mantenho as pessoas falando, trocando ideias, batendo de frente, buscando referências. e, para manter isso acontecendo, entre um gancho e outro, resolvi falar sobre uma mulher maravilhosa, empresária, igualmente inteligente e cabeça aberta, como eram todas as presentes, que estava fazendo todo um auê na mídia naquele momento pelo lançamento do clipe oficial do prometido hit de carnaval. anitta, com seu “vai, malandra”  – lembrando sempre que gravação em estúdio da canção somavam mais participações especiais do que tínhamos de pessoas na mesa na ocasião.

daí os diálogos: ai meu deus mas é muita exposição. ai meu deus mas por que precisa de tanta bunda. será que precisa sexualizar tanto a mulher. a gente luta tanto pela igualdade de gêneros pra esse tanto de bunda num clipe. mas tia os caras também estão seminus. mas é outra coisa. é outra coisa por causa da sociedade. mas é a sociedade que a gente vive. e a gente tem que mudá-la, ué. mas precisa de tanta bunda. precisa. precisa? precisa. quem disse? eu tô dizendo. logo você? logo eu.

e aí fica engraçado, veja só: não pode ter bunda de mulher no clipe de funk, que foi culturalmente desenvolvido para ser mais sexualizado do que a música orquestrada, por exemplo. não pode falar de sexo. não pode um monte de coisa. e por que? porque a gente quer igualdade. mas aí tudo bem o cara seminu. mas aí tudo bem chico dizendo que quer ficar no corpo que nem tatuagem – gente, grudar na pele é mais forte do que brincar com o bumbum.

é tudo uma questão de linguagem, então, eu pensei. pode deixar a mão errante adentrar atrás, na frente, em cima, embaixo e deixá-la entrar: êta, caê! mas, vamos lá, descer, rebolar, empinar olhando… de jeito nenhum? deve facilitar a tal mão errante, eu pensei. é uma questão de ângulo.

daí sempre tem alguém pra falar de geração. wasted youth e outras frases fracas. não faz sentido algum, visto que temos muitas pessoas falando de t r e p a r (separadinho, pra não assustar) com requinte antes dos quarenta, também. mart’nália fala de samba pra falar que vai pendurar roupa no cabide. além de tudo é organizada. que mulher. e a céu, que usa a delicadeza da voz pra falar dessa malemolência toda? dá até vontade de ficar sem chão, também.

se a questão é a linguagem, aceito as críticas: aquele rap no meio dá uma prejudicada na cadência da música. mas, veja bem, tem hora que ninguém aguenta mais chico querendo t r e p a r (separadinho, pra não assustar) e poetizando, pra ver se ganha um café na cama de manhã. mas, ok, aceito, a gente tem que discutir essas coisas, mesmo. botar anitta em pauta, falar de sexo, falar de vida, falar de gente. vamos fazer o que? piada de pavê eu não aguento mais. a gente podia dançar, quem sabe. será que tem cerveja o suficiente? se não, ó, vamos lá: deixa as garota brilhá.

e vai, malandra.


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