uns bons quase dez anos

uns bons quase dez anos atrás você me disse reza pra esse ano eu cumprir todas as minhas promessas. devia ser dezembro, a gente sempre conversou mais perto do final do ano porque rola toda aquela nostalgia de quem deveria estar mais na nossa vida e nunca está porque a gente tá ocupado demais descumprindo promessas e vivendo no piloto automático dos dias que nunca mudam – aqueles dos quais a gente insiste em reclamar. uns bons quase dez anos atrás você me disse que queria cumprir mais suas promessas, mas eu nunca acreditei que você cumpriria e foi exatamente por isso que, naquele dia, enquanto respondia sua mensagem, eu pedi um café com pão de queijo. uns bons quase dez anos atrás eu não era intolerante à lactose e podia comer vários pães de queijo com café, e sempre pedia mesma coisa, você lembra?, faz uns bons quase dez anos, mas agora eu só troquei o pão de queijo por uma esfiha qualquer que não tenha leite pra eu não cair numa dor de barriga nos botecos que eu vou. muita coisa mudou nesse tempo todo e, uns bons dez anos atrás, a gente vivia numa realidade paralela com muitas bandas ruins e momentos esquisitos e dores de cabeça que vinham de situações que a gente se esforçava muito pra criar só pra ter problema pra reclamar, porque era bonito, porque parecia maduro, porque era melhor se tivesse do que reclamar. uns bons dez anos atrás a gente pedia café com pão de queijo e escondia um do outro os erros que cometia como se o outro não estivesse cometendo exatamente o mesmo erro. aliás, uns bons quase dez anos atrás eu cometia muitos erros imbecis e só ia pra boteco pra comer pão de queijo e tomar café, o que era um dos maiores erros porque botecos têm cervejas e cachaças e pingas e coisas muito mais legais para oferecer do que café melado e pão de queijo dormido, e pra responder suas mensagens. uns bons quase dez anos atrás você me disse reza pra esse ano eu cumprir todas as minhas promessas e faz mais ou menos uns bons dez anos que eu te respondi o que era esperado de ser respondido pra alguém que nunca cumpre promessas, e eu lembro claramente de abaixar a cabeça pra rir na hora de responder dizendo, adivinha só o que eu acabei de pedir.


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