PCP #06 – cajuína

Não tenho muita familiaridade com nada que dura. Sempre gostei de haikai. Minha música preferida tem seis linhas. É o suficiente. Caetano, às vezes, esquece, mas eu nunca. Existirmos, a quê será que se destina? Aliás, não tenho mesmo familiaridade alguma com coisas que duram: tenho um sério problema de permanência. Já tentei fazer uns cursos, já tentei fazer meditação, yoga, ayurveda, TODAS essas coisas. Não cheguei até o fim do curso e desisti da meditação antes do fim do primeiro minuto. Juro. Não dá. Sequer consigo ler livros longos. Desisto antes de ficar bom, que nem na vida. Desistiria até de Cajuína, cristalina em Teresina se não fosse tão boa logo de cara. 

Mas isso não foi do nada, eu sempre gostei de desistir. Quando decidi que ia parar de sofrer pra abrir mão, fiz um plano. Na minha aba de projetos pessoais, comecei a pensar em tudo o que precisaria fazer para diminuir meus sofrimentos cotidianos. Basicamente, precisava entender como sair de perto do que não tinha nada a ver comigo. E, é claro, fazer isso sem lidar com TANTO DESGASTE – se é que isso é POSSÍVEL. 

Fiz projetos para ir aprendendo a me desvincular: me afastando de pessoas, saindo de empregos, quebrando rotinas, abrindo mão de dinheiro pra poder ter um pouco de paz. Ignorei muita coisa, muita gente e muita merda. Desistir é uma delícia, mas eu não diria que sempre foi natural.

Agora, me seguro muito para não desistir de todas as coisas. Porque é tão fácil aceitar. Aceitar é dádiva de vida. Você não reclama, não se desgasta, não alimenta expectativas. Segue em frente. Aceitar é o caminho para a felicidade e, por isso, sou completamente viciada em desistir. Não dá pra se sentir pressionado pelo que não te importa. Pouco importa, na verdade, o que é ser feliz. Aceito a facilidade. Apenas a matéria vida era tão fina, diria Caetano. Da vida não dá pra desistir, nem quero. Todo o resto, sim. Carregar menos pra sofrer menos. 

E, francamente, eu preciso perguntar, se não for pra abrirmos mão do que dói, se não for pra nos afastarmos de quem nos machuca, se não for pra escolhermos estar perto de quem nos faz feliz, se não for pra nos sentirmos inexplicavelmente bem… Existirmos, a quê será que se destina? Se não for para que façamos todas essas coisas, suspeito que nossas vidas não precisem, então, durar muito mais do que uma música como Cajuína.

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Comments

4 respostas para “PCP #06 – cajuína”.

  1. Avatar de pcp #07 – como nossos pais – giovanna marques

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  2. Avatar de PCP #05 – como você – giovanna marques

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  3. Avatar de PCP #00 – O PCP – giovanna marques

    […] Capítulo 6, bebendo Cajuína cristalina em Teresina com Caetano Veloso. […]

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  4. Avatar de helisonbsb

    Muito bom!!!! Existem obstáculos a serem quebrados e talvez o maior obstáculo seja vc mesmo em termos de ¨o que fazer agora????¨!!!! A vida é cheia de dificuldades, é dificil agradar e ser agradado por pessoas, tudo é difícil na vida…o importante mesmo é ser feliz e não pensar sempre em dinheiro!!!! Não podemos sempre pensar em agradar as pessoas, seguir metas que elas mesmo colocam em vc…sendo que a sua metal pessoal: ser feliz é o que estar em jogo!!!! A vida é curta e temos que aproveitá-la em todos e a todos os momentos!!!! abraços!!!!!

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