sobre mim fica sempre difícil contar alguma coisa. primeiro porque eu não sei muita coisa, segundo porque eu mudo de ideia muito rápido. deve ser por isso que eu crio personagens: adoro justificar que, no final do dia e de todas as contas – e eu com certeza farei todas -, eu adoro justificar que eu só tava daquele jeito porque andei escrevendo sobre alguém e esse alguém fazia coisas que. quase nunca ando escrevendo. ando tendo tido, na verdade, lapsos de escrita em momentos em que estou parada, quase imóvel. mas já andei escrevendo. eu sou a pessoa que, sobre mim, já foi fácil dizer. mas agora anda difícil, porque, veja, eu faço um milhão de coisas. mais do que todas, escrever. e mesmo assim tenho escrito pouco. o que isso diz sobre mim? que tenho feito, veja só você, muito, muito pouco. mas já fiz muito, um dia. já fiz planos histórias aulas seminários zines livros que nunca terminei desenhos e já fiz amor, muito amor. já participei de momentos para os quais fui convidada e já me convidei para participar de momentos para os quais as pessoas jamais me convidariam. eu sou a pessoa para quem todo mundo vai voltar para contar uma história triste. eu já fui a pessoa para quem todo mundo volta com lágrimas nos olhos e sou a dona da casa de quem ninguém sai sem um sorriso no rosto. sobre mim fica difícil contar alguma coisa, porque eu passei a vida inteira colecionando resquícios alheios em mim e a minha pele é um emaranhado de tudo o que eu juntei. hoje, eu até gosto de olhar. sobre mim eu posso sempre dizer que amei. amei e amo profundamente os que me rodeiam e o café que faço religiosamente todas as manhãs. sobre mim posso dizer que as palavras que escrevo carregam a verdade que foi ou a verdade que será em algum ponto da vida. sobre mim posso dizer que vou ler todas as letras que forem possíveis, das bulas às odisseias desvairadas e despropositais de quem quer que seja. eu tenho uma certa tara pela má literatura. um tesão pelo desgaste literário que nunca soube explicar. um amor louco por pessoas reais que escrevem histórias surrealmente boas sobre personagens que pareciam ser só mais um qualquer. o meu maior sonho da vida é escrever uma dessas histórias e isso é tudo o que eu tenho tentado fazer desde que nasci. eu viro sempre um pouquinho de cada personagem que escrevo. deve ser por isso que sobre mim fica sempre difícil contar alguma coisa.
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