Quando eu for falar de você, não vou contar sobre como me magoei, nem espalhar que, num dia desses quaisquer, você usou minhas palavras contra mim pra ir embora de vez. Quando eu for falar de você, vou deixar claro que, com você, dois e dois nunca somam quatro e os excessos têm gosto de café da manhã. E que você me beijava, até quando não me beijava. Até quando estava longe. Fora: daqui, de si, de mim.
Quando eu for falar de você, vou respeitar os dias que, pelo seu sorriso, sorri pela manhã e esconder os detalhes sórdidos do dia que acordei com dor de cabeça depois de chorar na sacada. Não vou contar da sua impulsividade que me destruiu muito mais vezes que tentei te transformar na soma exata que você me disse que era. Ninguém precisa saber dos seus nãos, mas os sins vou jogar pro mar e deixar molhar. Porque seus sins são os melhores.
Quando eu for falar de você, vou falar dos beijos na nuca. E na boca, no rosto, no pescoço, no corpo. Vou falar do seu jeito engraçado de falar da vida. Vou contar da gente como quem conta de algo bom e vou deixar pra lá as inconformidades do nosso discurso. Vou deixar pra lá nossas inconsistências. Vou deixar pra lá nossa equação e me somar comigo pra contar pro outro que um dia você me desejou bom dia com um texto bandido que me fez escrever vinte páginas. Você nunca leu nenhuma delas, mas aposto que adoraria. Eu sempre vou contar que você me lia – e que eu adorava ler você.
Vou contar rindo da sua casa bagunçada e da louça que você jurava que não tava na pia. E das suas inspirações. E das suas piadas. E vou contar rindo do seu sorriso, porque eu sempre rio quando não sei o que fazer e, pensando no seu sorriso, eu não faço a menor ideia.
Eu sempre vou falar de como você prometia vir e vou omitir que nunca veio. Vou contar que você pedia sem citar que era sem vontade. Vou falar do seu abraço sem mencionar que você soltava os braços antes de mim.
Quando eu for falar de você, vou contar da sua melhor versão, porque foi ela que eu guardei. E todo o resto não importa tanto assim. Eu ponho pra fora pra te ter dentro. Em mim, não cabe seus nãos, nem esses impulsos de somar errado e nem mesmo admitir. Aí eu jogo fora. E te perpetuo contando de você pra quem quiser ouvir.
E, quando eu for falar de você, sempre vou começar assim dizendo: “uma vez, me apaixonei pela pessoa mais legal do mundo.”
Texto publicado em 2018 no Coletivo We Love.
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