li hoje pro desafio o poema “desenho”, da cecília. nele, tá a frase dela que mais vejo sendo compartilhada por aí: “aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”. acho que essa frase é tão disseminada porque nos toca no que tentamos fazer com as nossas vidas todos os dias.
fico pensando na quantidade de vezes que fui decepcionada. que tive que ter uma conversa difícil demais, que precisei tomar uma decisão assertiva em pouco tempo, que precisei ouvir nãos, que precisei engolir ordens, que precisei acreditar que o outro estava certo e eu ainda não havia percebido.
fico pensando na quantidade de vezes que fui cortada. que tive meus sentimentos invalidados, as minhas vontades ignoradas, minhas ambições diminuídas.
fico pensando nisso, porque dói. mas essas coisas nunca me pararam. eu sempre escolhi ver tudo como primavera.
acho que isso tem a ver com a minha mãe. que, apesar de ser uma das pessoas mais reclamonas que eu conheço, consegue tirar leite de pedra sem perder a fé um minuto sequer. aprendi pelo exemplo que a gente precisa seguir em frente.
então as flores acabam aparecendo.
menos “i can buy myself flowers”, mais “deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”.
menos “flores de plástico não morrem”, mais ganhar de 7×1 da vida.
e nessa realidade a gente vai aprendendo que o incômodo e o desassossego também fazem parte. que ser feliz todo dia é impossível, mas que ser infeliz pra sempre é uma penitência que ninguém precisa pagar.
que a gente consiga olhar pras coisas e ver flores. adélia prado fala que tem hora que ela olha pra pedra e só vê pedra. eu também tenho dias assim, adélia. o que me salva, nesses dias, é a poesia. você olha pra ela e uma poesia nunca é só uma poesia.
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