comida é um assunto delicado

eu tava relendo um texto que saiu pelo Crônicas em 2017 (sdds pagar conta com dinheiro das minhas palavras na internet) e fiquei pensando como sempre tive uma relação caótica com a comida.

sempre fui uma pessoa que se achou feia. eu vivia tentando emagrecer – como se fosse resolver alguma coisa. já fiz todas as dietas que você pode imaginar. isso é um lado.

por outro, recentemente cheguei ao ponto de estar comendo tanto que vomitava, chorava e ia dormir culpada, angustiada, frustrada. coisa feia mesmo. foi dificílimo. era papo de depois da janta comer 3 croissants, 2 pedaços de chocotone, uma barra inteira de chocolate e um pacote de bolacha. depois de jantar.

e passava mal, claro.

aí veio um diagnóstico certeiro e uma medicação adequada que mudaram minha vida. e agora, pra além dos extremos excessivos, minha relação com a comida é normal. eu tomo café da manhã com café, pão e queijo, como gosto, almoço salada com alguma coisa que tenha na geladeira (geralmente um omelete), janto salada. e vivo bem.

mas a sensação que dá é que eu passo o tempo todo pensando em comida. no que não quero comer. no que não devo comer. no que preciso comer. no gosto que aquilo tem. uma vez trabalhei com uma mulher que fazia uma dieta baseada no “já sei o gosto que isso tem”. ela basicamente só comia coisas que nunca tinha provado antes.

um puta experimento antropológico, não? o trabalho tem dessas de apresentar a gente pra pessoas que não tem nada a ver com o nosso mundinho. no meu mundinho, eu só como o que vale a pena. o que eu sei que vai ser bom. por isso gosto tanto de comer minha própria comida.

cozinhar me colocou pra tão perto da comida que meus dedos já sabem pra onde ir quando eu abro a geladeira. junta sabores, imagina cores, esquenta água, bota pra ferver. cozinhar é uma dança. descasca, separa, corta, pica, junta, joga na panela. repete: descasca, pica, panela. mexe, mexe, mexe.

que sorte que eu adoro dançar.

também é uma sorte que a cozinha me aproxime daquilo que por tanto tempo me feriu.

de pertinho, eu descubro que não é um bichão de sete cabeças (e esse não é necessariamente um conselho sobre compulsão alimentar).


Posted

in

by

Tags:

Comments

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: