Categoria: poesia
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preciso ir, mas não quero
o problema é que a distância até a porta é muito maior que a da tua boca até minha nuca e essa nuca implora cê olha e ela nem tem hora pra arrepiar e influente que é envia pro corpo inteiro o sinal que ir não é ligeiro e que é melhor aceitar e quando…
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o cheiro do seu cabelo
eu lembro do cheiro do seu cabelo eu lembro que você tinha pelos do bigode que saiam na bochecha e quase chegavam nas olheiras eu lembro da textura da pele do seu braço eu lembro da grossura do seu pulso e lembro de querer segurar sua mão eu lembro de fazer cafuné na sua cabeça…
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fome
há algo incrivelmente belo em deixar o caos se apossar do espaço vazio na cama fria com cheiro e cara de que ali é habitat também tem que eu sempre soube onde isso ia dar e que o quente do edredom não ia ser suficiente pro gelo da sua pele que parecia combinar tão bem…
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o último a sentir apague as luzes
estou entregue à minha própria falta de sorte ou alguma sorte de azar que canta o sorriso que você não deu o copo que você não bateu com o meu pra brindar à festa que você não esteve à companhia que você não foi à música que você não cantou ao lábio que você não…
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pra são paulo – II
são paulo são paulo não perdoa nem no clima nem no cheiro nem quem chega muito menos quem vai são paulo não te entende não compreende que a cabeça não tem espaço pro caos de cada pedaço dessa cidade que vive em erupção são paulo é o traço do ilustrador icônico que faz o mundo…
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não existe poesia no fazer poético
eu queria escrever um poema e fui atrás de inspiração fiz abstinências e abusei dos excessos enchi a cara arranjei briga trepei depois fiz celibato absorvi tudo o que pude e ouvi canções pra descobrir no fim do dia que fazer poesia não tem fórmula e o poema não vem quando se senta para escrever…
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pra são paulo – I
talheres são paulo uma vez me disse numa manhã dessas quaisquer quando se acorda no horário, toma café sem pressa, se lembra do que precisava se lembrar, pega o ônibus com o motorista certo, consegue um apoio para as lombadas e chega-se no metrô ainda em tempo, numa dessas manhãs, são paulo disse que iria…
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o que levo de você
o gosto do beijo, o cheiro da pele de cigarro, cansaço e paz. o quente do abraço, do aperto da mão, do esquentar da orelha, do carinho na volta do dedão. a dança, o canto, nossa música, nossos sonhos: eu achei que ia longe com você, achei que era você, achei que continuaria sendo e…