amarelo

eu saí disparando pra todo mundo que todo mundo devia ouvir e assistir esse clipe lançado hoje pelo emicida. primeiro porque é, e isso é inegável, lindo. segundo porque é um feat do preto do rap com as travas do pop. e ainda tem belchior. e em terceiro, e muito importante, porque fala da vida. da vida que a gente acha que não vai conseguir encarar. da depressão que cospe na nossa cara e faz a gente se sentir minúsculo. areia. inútil. um dia, num dos piores deles, uma amiga me disse: você não é o seu diagnóstico, não é os seus problemas. eu não sou. às vezes, esqueço. e sei que não sou a única que tem esquecido com frequência. mas aí aparecem coisas, pessoas, uns sorrisos esquecidos no canto da boca, um gosto diferente. aparece uma música como essa e eu lembro que eu não sou o que me larga na cama. eu sou o que me coloca de pé. não sou o choro sem porquê. sou a gargalhada que deve ter feito o vizinho novo me odiar. não sou a vontade de desaparecer. sou o que eu assino embaixo. sou a minha voz, o que eu falo, o que eu consigo ser. e se hoje for menos do que ontem, que bom que pelo menos tem sido. o importante é ser. um pouco por dia. sem melhor, nem pior: a gente é o que dá pra gente ser. respeitando o que deixa a gente na cama no sábado a tarde. valorizando cada uma das cervejas dos dias mais fáceis. entendendo que a gente fica achando, e a gente acha mesmo, que a depressão é enxergar a realidade nua e crua e isso dói, mas que isso tá errado pra cacete. a depressão é a visão turva da vida que pode ser boa. a depressão é a faca na cara da realidade que não é sempre tão bosta assim. tem muita merda acontecendo, tem muita gente fazendo coisa errada, a gente tá fazendo muito menos do que acha que deveria. mas a gente faz sempre tudo o que pode e isso faz parte: é o que a gente pode fazer. e todo o resto não importa. a gente precisa se permitir falar. e calar as cicatrizes. as nossas, as dos outros. esse ano a gente não morre. acredita.

originalmente escrito em 2019. nunca antes publicado.