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falar demais é a medida

  • Foto do escritor: Gi Marques
    Gi Marques
  • 24 de fev.
  • 3 min de leitura

fala o que te incomoda, fala sobre o que te tira o sono, conta o que aconteceu, explica o que te cansa a beleza. me conta. talvez eu nem saiba como te ajudar, talvez nunca tenha passado por nada semelhante e só possa te oferecer minha companhia, meu ouvido e o meu mais sincero “puta que pariu”, mas fala!




durante muito tempo eu fui do time que guardava pra si. lembro bem que, certa vez, conversando com uma das poucas pessoas do meu seleto grupo de amigos que sabiam o que realmente estava rolando na minha vida, falei: “eu não conto, porque quanto mais as pessoas sabem sobre mim, mais vulnerável eu fico”. na época, ela concordou comigo. hoje, eu discordo.


quer dizer, você realmente fica vulnerável. isso é um ponto. mas e daí? Ana Cristina, aquela poeta marginal brazuca maravilhosérrima que se perdeu em si mesma aos trinta e poucos, diz que a mulher mais misteriosa que existe é aquela que não tem segredos. concordo. a vulnerabilidade é relativa: a platéia pode ter a faca e o queijo na mão, mas o palco ainda é seu.


não é abrir sua vida pra todo mundo que passar na sua frente, mas é saber que todos temos dias horríveis e situações insolúveis de quando em quando e que tá tudo bem falar sobre isso. a vida de todo mundo tem seus momentos de complicação. não é engolindo seus enredos que criaremos um melhor desfecho.


tem que falar. tem que falar pro peito desafogar e a coragem nascer no meio das palavras. tem que falar pro amigo, pro psicanalista (viva, Jung!), pra namorada. tem que falar da mãe, da ex, do cara que saiu contigo e não ligou no dia seguinte, do que não para de ligar e do que perdeu o interesse. tem que falar da ansiedade pro fim do semestre, da preocupação com as contas, da vontade de viajar.


fala sobre tudo o que te faz sentir.


tem que falar do que você ama e do que odeia em si mesmo e do que não consegue mudar nem a pau. admitir as cagadas e enaltecer as conquistas pra vida lembrar que a nossa autoconsciência segue intacta — independente dos perrengues pelos quais ela nos faça passar. fale de si mesmo até entender quem é você. depois comece a ouvir.


e é aí que entra toda a magia: a parte mais interessante de aprender a falar é quando você respira fundo e começa a ouvir. ouvir sobre o outro, sobre o que o outro entende de quem é você e do que são feitos os seus problemas. quando você fala até conseguir falar e pára pra respirar, você tem a oportunidade imperdível de ouvir sobre a percepção alheia dos seus dias, dos seus medos e das suas inseguranças.


engolir o que te incomoda é, por consequência, não ouvir. a vida fica muito mais simples quando podemos compartilhá-la com quem também convive com as próprias dores por aí. a gente respira muito mais leve se consegue se ver no outro e desconstruir a imensidão dos nossos anseios que, por muitas vezes, não são mais do que meros anseios…


fale. fale até ouvir. divida o incômodo, a mesa do bar, o litro de cerveja, o copo de café, a conta e o espaço no peito.


a vida fica mais leve quando a gente fala. pode acreditar, tô te falando.


 
 
 

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