escrever e amar com a vida inteira

sobre mim

tenho uma habilidade inexplicável de aprender coisas rapidamente, sobretudo aquelas coisas sobre as quais eu não sei nada. sou especialista em tudo o que não sei fazer. chego sempre antes da hora. organizo meus potes de tempero por cor. cozinho com amor. às vezes, tenho mais prazer em ver uma cara de alegria depois de comer um prato que eu cozinhei do que depois de trepar. mas só às vezes.

gosto de ler coisa escrita por gente que tem vida. pela capacidade de colocar na mesa aquilo tem de mais real e cru no mundo – e só se sente vivendo lá fora, no lugar de escrevendo aqui dentro. é preciso falar em voz alta, mesmo que só, durante muito tempo para aprender a escrever. deve ser por isso que escuto música o tempo inteiro. quase como ter companhia para conversar sozinha. sempre canto. danço. não passo vergonha. perdi toda quando decidi que seria feliz a qualquer custo. não é barato. mas é ótimo. poupa muita dor de cabeça. manda muita gente embora. ainda bem.

adoro ver a vida de manhã. troco qualquer coisa por um belo café. tenho preferência por torras mais frutadas, mas, para os registros, o café que mais gosto é o que eu faço aqui em casa. gostar, mesmo, eu gosto de pouca coisa. mas adoro a vida quase toda. odeio profundamente todo o resto. vivo de sensações profundas. sofrimento é visceral. jamais termino uma conversa sem uma verdade absoluta. 

é porque eu crio coisas que tô sempre escrevendo. na verdade, escrevo muito enquanto espero. a chuva passar, a cerveja gelar, o jogo começar, o amor chegar. espero e esperei muito pelo tempo, pela distração, pelo corinthians ou por mulheres que amo e amei. sempre profundamente, quando falo de amor. e do corinthians.

escrevo muito porque a vida dói. e porque dói, preciso escrever. um ciclo eterno que continua acontecendo pela dor que causa o escrito e pela dor que, escrita, cura o que se sente. sou hipocondríaca, com a convicção que só tem quem nunca foi atrás de descobrir. viciada na cura. minha bolsa de remédios é muito maior do que a de maquiagem e eu sempre acho que preciso de um médico. assisti seriados de hospitais a adolescência inteira e a única coisa que aprendi foi “it’s never lupus”. vivo no pronto socorro.

uma vez, um amigo me disse que existem algumas siglas que me definem: pf (prato feito), ps (pronto socorro), pj (pessoa jurídica), pl (pinga e limão) e pt (perda total).

não confundir com a língua do p.

acho bonito confiar no que as pessoas falam sobre você. perigoso, como quase todo tipo de coisa bonita. acho ainda mais lindo confiar no que você vê em você. apesar disso, ouvi uma vez que o autoconhecimento, apesar de maravilhoso, é quase sempre uma má notícia. é impossível discordar. e continua igualmente importante.

entender o espelho. reinventar o espelho. se apropriar do espelho. e o que importa pra mim é ser capaz de contar histórias por aí. antonio maria dizia que escreve-se com dois dedos e ama-se com a vida inteira.

tatuei à flor da pele a releitura feita pela milly lacombe, do jeito que também funciona pra mim: escrever e amar com a vida inteira.