bem,
me pediram uma biografia
explicitar como é que eu ia
ajudar como eu podia
a entender que que tem
na cabeça dessa guria
que ora tá bem
ora, quem diria!
um furacão que ninguém imaginaria
ver bradando aos sete mares
as dores, os erros, os pesares
pintados à mão numa parede branca
um furacão que se personificou
pra vomitar seus defeitos
e organiza-los
entendê-los
encará-los
escrachá-los
um a um
mostrar pro mundo que é sempre tudo
que 8 ou 80 é pouco
que só adianta alguma coisa se tatuar pelo corpo as fraquezas
pra todo mundo ver
que que se foda quem quiser perder seu tempo
falando coisas como “você não vai acreditar!
ela dormiu numa mesa de bilhar,
fumou quatro maços de cigarro antes do dia começar,
trepou com aquela mulher,
e depois cantou uma canção
enquanto fazia cafuné
no rapaz que a interessou!”
vão falar que o decote é profundo demais
que ninguém deveria usar essas palavras antes das dez
que tem crianças aqui
que ela faz poesia porca
que não encanta ninguém, só choca
que arte quem faz são os grandes pintores que usavam azul pra esconder sua dor
e enquanto falam
e falarão
falarão
falarão
eu vou continuar caminhando por aí
com decotes até o umbigo
fumando todos os cigarros que minha vontade permitir
trepando com as mulheres homens and all the freaks in the middle que me fizerem qualquer coisa sentir
e se por acaso eu parar num bar
desses de esquina qualquer
com um cachorro na porta
e dois bêbados num balcão
e um deles me disser
que ouviu falar de mim
vou sentar ao lado deles
encher meu copo de cerveja
e perguntar
“o que dizem agora por aí?”
e deixar que os porcos
loucos
sujos
sem futuro
contem as histórias
que os limpos
sãos
críticos e estáveis
gastaram seu tempo
inventando sobre alguém
que respeita suas vontades
e escreve foda-se com seus defeitos
escrachados numa parede branca
une tudo
molda
e transforma num poema
que um dia eles vão querer citar.
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