não me siga, eu também estou perdidzzzZzz & um ode aos clichês

“não me siga, eu também estou perdida.”, cê já deve ter ouvido isso, eu aposto. ou lido, em alguma placa, num bar, num restaurante modernoso ou estampado numa caneca numa foto de fundo desfocado d’um instagram de feed organizado. quem tem tempo pra organizar feed? eu mal organizo minha mesa. aliás, fiz isso hoje: ano novo, mesa velha. arrumada, ao menos. voltei de viagem e tinha até um pedaço de calça em cima do meu computador, que estava na cama – não uso computador na cama há anos. agora, tudo sob controle. pedaço de calça no lixo, computador na mesa: cada coisa em seu lugar.

na vida, não posso dizer o mesmo. mas posso repetir clichês. uso e abuso deles e re-repito [neologismo já está permitido em 2018?]: não me siga, eu também estou perdida. e pra onde ir quando não se sabe onde está? parece abstrato, mas é menos complexo do que o diálogo de alice no país das maravilhas. eu estou aqui. na minha mesa, agora organizada, sentada, um tanto atrasada pra um compromisso que marquei não tem nem vinte minutos. marquei sabendo que tinha esse texto pra terminar: marquei sabendo que não chegaria a tempo. marquei. se isso não é coisa de gente perdida, o que é?

aliás, tem coisa mais perdida do que marcar compromissos em horários inviáveis com a falsa ilusão de que chegará em tempo? reunião às 9h num local a mais de 40 minutos de distância: ninguém chega a tempo. café da manhã às 10h na padaria debaixo de casa: não chegarei a tempo – porque é perto, vou me atrasar e sair de casa às 10h15. reunião de trabalho depois do expediente, às 18h30: não é HUMANAMENTE POSSÍVEL chegar a tempo em qualquer lugar entre as 17h30 e 19h00 em são paulo. e, mesmo assim, marcamos. por que? porque somos todos perdidos, oras. quer dizer: eu sou.

já falei? e tem mais: não me segue, não. no instagram, se quiser, pode ser. o feed não é organizado, mas as legendas são engraçadinhas. no twitter, seja bem-vindo. na vida, pelo amor de deus, me perco no caminho de casa. confundi a tijuca e o leblon, uma vez. se me largar no centro da cidade e for muito longe da roosevelt, já esqueço como COMER, tamanho desespero. não me siga.

meus amigos inventaram de me seguir, uma vez. o destino era o bixiga. acabamos numa avenida aleatória, onde todos os comércios estavam fechados e a uma ladeira IMPRATICÁVEL de distância de qualquer local conhecido. me seguiram. pagaram o Uber. é isso que acontece quando me seguem. não me sigam. eu não só estou perdida, como sou.

agora, por exemplo: vou chegar atrasada. não precisava, podia ter marcado meia horinha mais tarde pra dar tempo de, pelo menos, dar um jeito no topete. a única coisa que me consola é que a outra pessoa que vai dividir a mesa comigo também escreve. esperar me inspira. deve inspirá-lo, também. quem sabe, na minha chegada, não exista uma porção de guardanapos com um texto prontinho para ser publicado.

posso chutar? o título será algo perto de “por que insistimos em quem nunca chega na hora?” e, meu caro amigo, eu te respondo desde já: você insiste em mim e me espera, porque eu sou perdida. e não saber onde se está rende ótimas histórias. quer coisa melhor? um dia, te conto a do pedaço de calça em cima do computador. agora não dá, tô atrasada. mas tô chegando. me espera. pede chopp pra dois?


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